domingo, setembro 30, 2007

Inimigos pastorais


As palhetas...
As palhetas são objectos que parecem inocentes e inofensivos. Mas na verdade movem-se, escondem-se, evaporam-se sempre que delas precisamos...
Ainda que estejam ao nosso alcance e à vista durante toda a semana, aos domingos de manhã são incontráveis.

sexta-feira, setembro 28, 2007

Eu tenho dois amores


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De um lado do rio tenho uma congregação mais racional e cerebral. Liturgias e música clássicas, discussões sobre imanência e transcendência, história cristã. Gosto do desafio.



Do outro lado do rio as reuniões de oração são mesmo para TODOS orarem. Nos cultos as vozes erguem-se ao som de músicas populares, levam-te braços, ouvem-se améns, aleluias, bate-se palmas, pandeiretas e voltamos com a alma lavada.


quarta-feira, setembro 26, 2007

A minha primeira grande celebração

50 anos de casados.

Muitas histórias, lágrimas de comoção, sorrisos. Os bons momentos da vida.

Como sempre as histórias felizes têm poucas palavras.

Visitação


Uma das tarefas pastorais é a chamada visitação. A pessoas que estão doentes, sozinhas ou tristes é suposto que o/a pastor/a as visite.

Quando Deus visita o homem traz-lhe uma promessa, conforto, desafio.

Que tipo de promessa, conforto, desafio deve levar um pastor/a que visita alguém?

Sempre me custou "meter conversa", falar com pessoas sem as conhecer. De que se fala, como se fala, até onde se vai? Descubro que conhecer telenovelas e concursos ajudaria. Só as notícias não chega. Mas acho interessante que só porque sou a nova pastora, as pessoas se sintam compelidas a abrir o coração e a confiar em mim, mesmo sem me conhecerem. A responsabilidade cresce.
Pintura: Hi-qi

terça-feira, setembro 25, 2007

Traduttore traditore

"Next", traduzido para português como "Sem alternativa" é mais um desses exemplos de tradução abusivamente interpretativa.


Às vezes de tão cansados da nossa dor, tornamo-nos surdos à dor dos outros.

quinta-feira, setembro 20, 2007

Os rios nascem no mar 2

Com uns minutos para matar no Chiado, aproveito para ler de borla uns livrinhos na sala de leitura da FNAC. À minha frente um sem abrigo com todos os seus pertences ao lado lê atentamente um livro. Tem um ar satisfeito e completo. As mãos sujas voltam as páginas e a cara suaviza-se. Depois pára. Acaricia o livro. Lança-lhe um olhar de pena e despedida. Compõe a fita de promoção cuidadoso. Suspira. Deixa passar a mão pela capa do livro como só as pessoas que realmente gostam de livros fazem. Deposita com todo o cuidado o livro ao seu lado. Assume o peso da sua pobreza e da impossibilidade de levar o livro. Parece que os ombros descaem sob o peso da realidade. Levanta-se, olha de novo o livro. Pega nos seus sacos de plástico e sai profundamente só.

sábado, setembro 15, 2007


O desânimo toma conta da alma e afoga-a. O ímpto para construir pode facilmente ser desmobilizado por engenharias processuais de nadas e zelosas diligências de coisas nenhumas. A fronteira entre ser-se discípulo e funcionário de Deus vai ficando imperceptível. Atravessá-la previne muita dor.

segunda-feira, setembro 10, 2007

Señor, me cansa la vida

Señor, me cansa la vida;
tengo la garganta rouca
de gritar sobre os mares,
la voz de la mar me asorda.
ndclksndcldkn
Señor me cansa la vida
y el universo me ahoga
Señor, me dejaste solo,
solo, con el mar a solas.

O tú y yo jugando estamos
al escondite, Señor,
o la voz con que te llamo
lsn lan la nal nal dskdndkdnvsdnvçskdnvnlsdnvlskdvnnalk n es tu voz.
sdnalksn
Por todas partes
te busco sin encontrarte jamás
y en todos partes te encontro
sólo por irte a buscar.

António Machado
pintura: Gauguin, Angústia.

A III Assembleia Ecuménica Europeia decorreu esta semana em Sibiu (Roménia).

sábado, setembro 08, 2007

Uma coisa triste de se fazer...

... é ver um jogo de football sozinha.

sexta-feira, setembro 07, 2007

O homem está dividido dentro de si. A vida volta-se contra si própria através da agressão, do ódio e do desespero. Estamos habituados a condenar o amor-próprio; mas aquilo que pretendemos realmente condenar é o oposto do amor-próprio. É aquela mistura de egoísmo e aversão por nós próprios que permanente nos persegue, que nos impede de amar os outros e que nos proíbe de nos perdemos no amor com que somos eternamente amados.

Aquele que é capaz de se amar a si próprio é capaz de amar os outros; aquele que aprendeu a superar o desprezo por si próprio superou o desprezo pelos outros.

Mas a profundidade da separação reside, justamente, no facto de não sermos capazes de um grande amor, clemente, e divino, por nós próprios. Pelo contrário, existe em cada um de nós um instinto de auto preservação.

Na tendência para maltratar e destruir os outros existe uma tendência, visível ou oculta, para nos maltratarmos e nos destruirmos.

A crueldade para os outros é sempre também crueldade para nós próprios.

Deste modo, o estado de toda a nossa vida é o distanciamento dos outros e de nós próprios, porque estamos distanciados da Razão do nosso ser, porque estamos distanciados da origem e do objectivo da nossa vida. E não sabemos de onde viemos para onde vamos.

Estamos separados do mistério, da profundidade e da grandeza da existência. Ouvimos a voz dessa profundidade, mas os nossos ouvidos estão fechado. Sentimos que algo radical, total e incondicional nos é exigido; mas rebelamo-nos contra isso, tentamos fugir à sua urgência e não aceitamos a sua promessa.
Paul Tillich, em És aceite.
Pintura: Eric Nykamp

quarta-feira, setembro 05, 2007

Ainda o tal cadinho social


E se de repente no final de uma reunião do Conselho da Comunidade (reunião dos responsáveis da igreja) se ouvir a música do Avante Camarada, o que será?... Alguma carrinha que anuncia a festa do Avante? Não! É o telemóvel da minha presidente do tal Conselho da Comunidade a tocar. Dirigente sindical e membro do PC a minha presidente lá vai este fim de semana para a Atalaia.
Mais uma vez nesta igreja convivem fachos convictos, salazaristas saudosos, socais democratas e socialistas a sério, com sociais democratas acomodados e gente que pensa que é socialista, comunistas activos e gente sem filiação. É fixe!
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n.b. Antigamente pensava que os comunistas não podiam ser crentes. Mas conhecendo alguns de perto percebo que são os ideais humanitários do evangelhos que os levam a lutar por uma sociedade mais justa. Acho a máquina comunista pouco livre e muito castraste, nunca quereria viver na Antiga União Soviética, na Coreia ou em Cuba, preferia de longe viver nos USA. Mas reconheço que em democracia o PC cumpre o seu papel profético.

Ainda dos Acampamentos


Uma das coisas fantáticas de uma igreja nacional é o cadinho social. A nossa riqueza não é porque somos todos iguais e formatados a uma só maneira de ser e de viver a fé, mas porque ganhamos todos pela diversidade.

Nos acampamentos, desde sempre se juntam meninos chiques de Lisboa, com os filhos dos agricultores do interior e da orla, e convivem lado a lado angolos, moçambicanos e os filhos dos burgueses da Figueira da Foz e dos pescadores da Cova Gala.
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À mesa do refeitório nos primeiros dias juntam-se por tribos,
mas ao longo da semana enquanto se fazem amizade reinventam-se grupos e no final já se sentam todos misturados. É bonito de se ver.

Mas fica aqui uma conversa que ilustra bem as diferentes proveniências:
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À mesa, um menino in de Lisboa fala das suas férias:
"Este ano fui à Eurodisney e no mês passado fui um fim-de-semana a Londres,
acho que a seguir ao campo ainda vou a Itália."
Um outro menino do interior, que seguia a conversa interessado pergunta curioso:
"E a Abrantes? Já foste a Abrantes?"

segunda-feira, setembro 03, 2007

Movida


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E lá começo eu novo tempo de Estágio. O meu querido Pr. Andreas Ding foi trabalhar para Madrid e por isso eu fui colocada como pastora interina nas comunidades de Figueira da Foz e Cova Gala até Dezembro. On my own em duas comunidades... Brrr... Sem rede.

Em férias 4

A Globalização chegou aos restaurantes perto de Nenhures-de-Cima, No Menu entre a tradicional Tijelada e o sempre presente Bacalhau à Casa, encontramos para sobremesa:
Capuchinho (cappuccino) e Profiteróis.

Em férias 3

À mesa discute-se empregadas internas. Descubro que quanto mais se ascende na escala social, mais as famílias gostam das internas portuguesas. Será porque são mais diligentes ou competentes? Não... apenas porque são mais subservientes e domesticadas. As de leste são muito mandonas, por outras palavras são seres humanos com opinião e coluna vertebral direita. Como sempre em Portugal o que os dirigentes desejam são criaturas sumissas, seguidistas e sem muitas ideias próprias. A criatividade, a originalidade, a independência são castigadas. Não são apenas as donas de casa in que assim escolhem, nas instituições, nas empresas premeia-se a docilidade e a obediência e reprimesse quem questiona, inova ou tenta mudar.
O tempo das caravelas foi amordaçado pela inquisição. Expulsou-se quem era diferente, silenciou-se quem não era cinzentão ou serviçal. A inquisição desapareceu, mas esta mentalidade acarinhada e sustentada pelo Estado Novo sobreviveu.

"É assim, que entre os obedientes de hoje, se recrutam os chefes de amanhã."
Eugen Drewermann

sábado, setembro 01, 2007

Os rios nascem no mar


Nas traseiras do AKI na Estação do Oriente, há sempre um casal de arrumadores normalmente ganzados e bêbados. Ela cuida dele quando ele cambaleia mais do que o usual, e ele abraça-a nos dias de frio. Entre o costumeiro: "Venha, venha, destrôça, destrôça, tá bom!" lá recolhem os euros para comprarem as garrafas de cerveja ou vinho sempre embrulhadas num saco de plástico.
Ontem este casal despedia-se de um outro casal também ganzado e alcoolizado. Entre abraços, recomendações e festas carinhosas nas caras, um dele diz: "Vamos orar!" Dão as mãos e começam a cantar a velhinha música do Pr. Zézinho:

"Um certo dia, a beira mar
Apareceu um jovem Galileu
Ninguém podia imaginar
Que alguém pudesse amar
do jeito que ele amava
eu jeito simples de conversar
Tocava o coração de quem o escutava

E seu nome era Jesus de Nazaré
Sua fama se espalhou e todos vinham ver
O fenômeno do jovem pregador
Que tinha tanto amor"

Depois de cantarem as 3 estrofes da música, fecharam os olhos e cantaram o Pai Nosso. Abraçam-se com sentida amizade, fazem recomendações, apertam as mãos e beijam-se, o outro casal vai na direção de uma qualquer camioneta que os leva para longe. O casal do costume, abraça-se reconfortando-se. Ela vê um carro a ir-se embora, corre, acena, "destrôça, destrôça..." e a vida continua...