sábado, setembro 01, 2007

Os rios nascem no mar


Nas traseiras do AKI na Estação do Oriente, há sempre um casal de arrumadores normalmente ganzados e bêbados. Ela cuida dele quando ele cambaleia mais do que o usual, e ele abraça-a nos dias de frio. Entre o costumeiro: "Venha, venha, destrôça, destrôça, tá bom!" lá recolhem os euros para comprarem as garrafas de cerveja ou vinho sempre embrulhadas num saco de plástico.
Ontem este casal despedia-se de um outro casal também ganzado e alcoolizado. Entre abraços, recomendações e festas carinhosas nas caras, um dele diz: "Vamos orar!" Dão as mãos e começam a cantar a velhinha música do Pr. Zézinho:

"Um certo dia, a beira mar
Apareceu um jovem Galileu
Ninguém podia imaginar
Que alguém pudesse amar
do jeito que ele amava
eu jeito simples de conversar
Tocava o coração de quem o escutava

E seu nome era Jesus de Nazaré
Sua fama se espalhou e todos vinham ver
O fenômeno do jovem pregador
Que tinha tanto amor"

Depois de cantarem as 3 estrofes da música, fecharam os olhos e cantaram o Pai Nosso. Abraçam-se com sentida amizade, fazem recomendações, apertam as mãos e beijam-se, o outro casal vai na direção de uma qualquer camioneta que os leva para longe. O casal do costume, abraça-se reconfortando-se. Ela vê um carro a ir-se embora, corre, acena, "destrôça, destrôça..." e a vida continua...