O homem está dividido dentro de si. A vida volta-se contra si própria através da agressão, do ódio e do desespero. Estamos habituados a condenar o amor-próprio; mas aquilo que pretendemos realmente condenar é o oposto do amor-próprio. É aquela mistura de egoísmo e aversão por nós próprios que permanente nos persegue, que nos impede de amar os outros e que nos proíbe de nos perdemos no amor com que somos eternamente amados.
Aquele que é capaz de se amar a si próprio é capaz de amar os outros; aquele que aprendeu a superar o desprezo por si próprio superou o desprezo pelos outros.
Mas a profundidade da separação reside, justamente, no facto de não sermos capazes de um grande amor, clemente, e divino, por nós próprios. Pelo contrário, existe em cada um de nós um instinto de auto preservação.
Na tendência para maltratar e destruir os outros existe uma tendência, visível ou oculta, para nos maltratarmos e nos destruirmos.
A crueldade para os outros é sempre também crueldade para nós próprios.
Deste modo, o estado de toda a nossa vida é o distanciamento dos outros e de nós próprios, porque estamos distanciados da Razão do nosso ser, porque estamos distanciados da origem e do objectivo da nossa vida. E não sabemos de onde viemos para onde vamos.
Estamos separados do mistério, da profundidade e da grandeza da existência. Ouvimos a voz dessa profundidade, mas os nossos ouvidos estão fechado. Sentimos que algo radical, total e incondicional nos é exigido; mas rebelamo-nos contra isso, tentamos fugir à sua urgência e não aceitamos a sua promessa.
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