quinta-feira, outubro 16, 2008

porque se sentava e comia com publicanos e pecadores...

Devia escrever sobre a América, melhor sobre os Estados Unidos da America, mas isto de escrever sem acentos nao está com nada, e a dar uma vista de olhos por um blog amigo que fala sobre homosexualidade, o colega perguntava: P.S. Onde estão os cristãos no meio desta discussão?
Pois digo-te Nuno, se os cristãos estão do lado dos estigmatizados, dos mais frágeis, daqueles que a sociedade rejeita porque nao são "normais" então estão do lado certo. Aquilo que é normal vai mudando. Aquilo que o cristinismo diz é: "abraça os que o mundo rejeita" e não "julga quem não é igual a ti."

terça-feira, outubro 14, 2008

Professora


Alegre, estouvada, meiga, brilhante. A Manela faz parte da minha adolescência e juventude. A Manela foi a minha professora de escola domincal (catequese) da classe dos adolescentes e jovens da qual ninguém queria sair, mas ela foi muito mais. Com ela aprendi tudo o que sei sobre encenação, escrever teatro, poesia, jograis, a ter as grandes e malucas ideias que dão alma a aprensentações e liturgias. Grandes produções fazíamos na 1a Baptista. Cenários faustosos, guarda-roupa inimaginário, mega-produções muito à frente do comum. Fumo (o que ela gostava de ter fumo nas peças...) Aprendi a ter o sentido da audiência, do público, de projectar a voz, das nuances. Tudo o que tem a ver com a relação com quem nos ouve.

Com ela aprendi a tenacidade de dirigir jovens, de os animar e encorajar, a dar oportunidades a todos, a tirar o melhor de cada um, a procurar dons a acreditar no melhor de cada pessoa. Com ela aprendi (não muito bem) a fechar os ouvidos às críticas e a saber que há um bem maior. Aprendi a abrir a bíblia e a encontrar os livros, as histórias, o sentido. Intuitiva, empática, desbocada. Paciente. A paciência com que aturava adolescentes (eu incluída) que palravam ineterruptamente durante a escola dominical armados em sapientes biblicistas!!!

Ninizinha. Era como ela me chamava. Ninizinha meu amor, vem cá à mãe. Eu não estou a dizer isso por dizer - e passava a mão pelo cabelo, abanava a cabeçaa e punha a mão no peito - mas tu és especial para mim. Repetia-me ela sempre que me via. Ao longo dos anos esta frase foi-se tornando especial. Pois fui-me apercebendo de que uma mulher de Deus, de grande valor gostava de mim.

Querida Manela. Ela não tinha um pingo de orgulho. viveu segundo o lema: É necessário que o meu Senhor cresça e que eu diminua. Não reconhecia o dom de escrever como seu. Dava tudo o que escrevia: Peças, poemas, jograis... Tudo era para o Senhor que um dia aprendeu a amar e que nunca deixou de servir, engulindo criticas e muita injustiça.

Lembro-me do carro: Sapatos, folhas com poemas meios feitos, outros com muitos anos, lingerie, caixas com bolos que nos trazia para os ensaios, fatos que desencatava numa loja qualquer e trazia para as festas, cabeleiras, pandeiretas, tudo ao molho. Foi com ela que fui pela primeira vez ao Amoreiras, que comi pizza.

Querida Manela, estou a imaginá-la agora a tirar uns toalhetes para limpar umas nuvens assegurando-se que estão suficientemente desinfectadas para se sentar.
Dói-me o facto de estar longe e nao a poder acompanhar à sua penúltima morada. Já sabem no meu funeral, fiquem na igreja a cantar a noite toda, tragam violas um piquenique e fiquem a noite toda a contar histórias da velha Manela. Não pude fazer a tua vontade, mas hoje entre cada avião que tomei lembrei-me das músicas que tu gostavas, relembrei tantos ensaios. Vou ter tantas saudades tuas.

Este ano vieste cantar nas igrejas onde eu estava colocada. A tua voz. A tua inconfundivel voz que cantava para Deus tinha perdido um pouco da força mas não a razão de ser.
Há 3 meses -precisamente dia 12 - vieste ao meu casamento. Estavas tão feliz porque te convidei. Fiquei tão feliz que pudesses vir. Pensei que estavas a ganhar a batalha, estavas magrinhas, cansada, mas o teu sorriso. Sonhei com mais uns tempos. Deste-me o teu último abraço estava eu vestida de noiva. Nunca o vou esquecer. Olhaste-me bem nos olhos e disseste: Desejo que sejas tão feliz! Desejo tudo para ti o que desejo para a Teresa, tu sabes que é verdade! Sim eu sei. Por isso custa tanto.

Acho que ela foi a melhor professora de todos os professores que jamais tive na vida. Adeus minha querida professora da Escola Domical.

Etiquetas:

sexta-feira, outubro 10, 2008

Uma terra linda de morrer

E nestas semanas já estive em 4 estados:

Pensilvania. Antiga, victoriana. Elegante. Gente reservada. Simpática. O Outono tem cores de amarelo e vermelho. As árvores altas ganham cores quentes. Pequenas montanhas.

Nassville, Tenassee. O sul no seu explendor. uma cidade dinâmica. Com gente que fala com toda a gente na rua. Gente alegre e divertida, expontânea e extrovertida. Os subúrbios são fantásticos, casas lindas, jardins a perder de vista. Sem muros, sem árvores a tapar a vista. As casas não têm protecção. Janelas enormes, portas cheias de vidros, ninguém fecha a porta quando está em casa.

Minnesota & Wisconsin. Paisagem a perder de vista, Milhas e milhas de vales, colinas e prados de todos os tons de verde, amarelo e vermelho. Estradas largas. Cidades mais pequenas. Gente mais introvertida. Pouca diversidade cultural. Antigos colonos da europa do norte. Reservas de índios que sobrevivem através dos casinos que as reservas possuem. Igrejas com menos gente. Aliás muita gente migra para outros estados porque a economia está mal.



Por toda América as casas são completamente desprotegidas. O crime é baixissimo nos subúrbios. Ninguem fecha a porta quando esta em casa. Volto a dizer as portas são com muito vidro. As janelas são enormes, sem janelas de madeira ou estores. É fantástico de ver para quem vem de Lisboa...

sexta-feira, outubro 03, 2008

America

Pessoas.
Fantásticas, simpáticas, acolhedoras. A maior parte nem sabe onde fica Portugal e na aula da universidade onde fui dar uma conferência um jovem perguntou (depois de eu falar de Portugal e mostrar no mapa, e contar um pouco da história de Portugal, etc..) se falávamos espanhol ou inglês. Algumas perguntam se temos televisão, se vamos à escola e espantam-se de eu falar inglês e saber onde ficam os estados do EUA no mapa. Mas todas simpáticas.

Nation. Tem orgulho. Tem esperança. E princialmente tem pessoas que se importam com os que têm menos, que são mais fracos. O sistema capitalista só funciona na América, porque as pessoas de bem dão do seu tempo, do seu dinheiro, da sua vida para ajudar os mais fracos. O sistema capitalista não funciona. O que funciona, descobri esta semana, é o coração dos americanos.


Gente que dá horas de serviço comunitário, dias de ajuda. Que dá dinheiro, recursos, educação. Esta última semana. visitei várias agencias de ajuda na cidade de Nashville. Gente que constrói do nada albergues para sem abrigo e que lhes dá "esperança" a directora disse: "Temos que primeiro que tudo dar-lhes afecto, empatia. Eles têm que se sentir compreendidos, aceites. Só depois nos dizem as verdadeiras razões porque vivem na rua. Se não sentem isso dizem que é porque escolheram, porque não querem viver nesta sociedade. Só quando confiam em nós relatam as famílias que se desintegraram, os empregos que perderam, as casas que deixaram de poder pagar. Então depois podemos ajudar." Como? Aulas de arte, musica, espiritualidade. Em simultâneo dão comida, roupa, dormida e têm pessoas que os ajudam a encontrar-se e a encontrar emprego novamente. Algumas pessoas que lá trabalham foram ex-sem-abrigo também. Mais do que comida e abrigo (já agora as igrejas de toda a cidade abrem as portas nos meses de inverno e os sem-abrigo dormem nas igrejas. Não destroem os templos e salões sociais? Não. Têm cuidado porque percebem o quanto lhes é dado). Esta instituição oferece um plano para sair das ruas. Mas primeiro aceitam-nos, respeitam-nos, fazem-nos sentirem-se bem com eles próprios, só depois vem o plano para sair de onde estão na vida. 50% dos ajudados deixa de viver na rua.

Gente fantástica. contarei mais sobre estas pessoas que dão de si. Esta semana vi gente a cuidar de crian,cas de adolescentes, de velhos, de gente que perdeu a casa (gente que tem trabalho, que sempre trabalhou, mas que por causa de uma doença perdeu tudo). Gente a lutar contra a pena de morte, que na realidade só mata os negros e os pobres. Aqueles que não conseguem pagar a um bom advogado. Só para estatística. No Estado do Tenassee há 120 pessoas no corredor da morte. 4 (quatro) tiveram dinheiro para contratar um advogado privado. Todos os outros tinham advogados atribuídos pelo Estado, normalmente advogados que ninguem quer contratar - Destes advogados que defenderam estes casos de pena de morte, 50% era o seu primeiro caso e 25% foram mais tarde expulsos da ordem por alguma razão. Dos que estão no corredor da morte. 70% são negros. Não porque haja mais criminalidade negra. Mas porque os negros são os mais pobres.

Eu sempre acreditei que as coisas na america funcionavam. Que a lei do mercado, desde que houvesse trabalho e oportunidade funcionava. Em Nova Iorque vi toda a gente a trabalhar, com ar feliz. e pensei: Acho que é importante o Estado providenciar, reformas, assistencia social, mas aqui o sistema parece funcionar. Mas o sonho americano é diferente visto por dentro.Os pobres da america. E cada vez são mais, devem a sobrevivência à generosidade das igrejas e das pessoas de bem. O sistema deixa de fora os que não têm sorte. Num post antigo eu dizia que a America é a terra das oportunidades e Portugal é o país da sorte. Continuo a achar que é a terra das oportunidades. Mas temos que ter a sorte de não adoecer, de encontrar as pessoas certas que nos ajudem...


Give me your tired, your poor,
Your huddled masses yearning to breathe free,
The wretched refuse of your teeming shore.
Send these, the homeless, tempest-tossed, to me:
I lift my lamp beside the golden door.



"Dêem-me os cansados, os pobres, suas massas apinhadas,
que anseiam por respirar em liberdade.
A recusa desventurada de seu porto abundante
envia a mim esses desabrigados assolados pela tempestade.
Ergo a minha chama ao lado do Portão Dourado.


Isto é o que está escrito numa placa na base da Estátua da Liberdade, e ainda que a política Americana não viva por esta regra, a maior parte dos americanos, não esquece como é que os seus avós chegaram à America e que retribuir as bênçãos que recebe de Deus.

In the heart of America

E ando de bolandas. Cada noite durmo numa casa simpática. Tantas que nem lembro dos nomes de todos os meus anfitriões. Republicanos e Democratas. Vi o debate presidencial em casa republicana e o de vice-presidentes em casa democrata. Embebida em cultura, sugando o tutano americano, é como me sinto. Eleições ao vivo!

Palin parecia uma menina esperta que papagueava bem a licao. Obama muito nervoso nem ouvia o final dos argumentos de MaCain, queria sempre interromper. Biden foi excelente. Todos falam mais do passado do que do futuro. Penso que poucos saberão como sair do embróglio que é o Iraque.
d
Depois detestei aquela atitude pindérica de Palin: "sou mulher, sei o que faço, dei provas disso no Alasco!" vs "Ai mas sou dona de casa como todas as mulheres, a minha família é de classe média e fica à volta da mesa da cozinha sem saber como mandar os filhos para a universidade."... please!!! Ela tem um ordenado de governador!
r
"Não percebo nada destas coisas de política" como vocês de Washinghton"... Bu!!!! " Eu quero ser vice-presidente, mas o povo americano quer que o políticos em D.C. os deixem em paz na sua vida! O povo americano não quer que os políticos se metam na sua vida" (?!) Então para que é que ela quer ir para a política???? Se os polítcos em Washinghton não são de confiar, porque é que ela vem do partido que está no poder, apoia MaCain e quer ser vice-presidente??? E para além disso porque é que ela tem que fazer o teatro de ser taralhouca? Porque é que as mulheres em locais de destaque têm que pedir desculpa se sabem do que falam? porque é que têm que agir como "louras burras" para ganhar simpatia?
f
MaCain foi elegante, deu a cara, apostou. Teve coragem de ser quem é e não pedir desculpas por isso. Aliás acho que será melhor presidente que Bush - não será difícil - tem mais coluna cervical. Palin fez-se de mulher tonta para ganhar votos de donas de casa desesperadas e maridos trogloditas que acham que as mulheres têm que ser um pouco burras para serem verdadeiras mulheres... Grrr...

Só mais uma preciosidade: "Queremos liderar os outros povos, os nossos amigos e aliados na luta contra a poluição, A America vai liderar os outros povos na defesa de políticas de ecologia e ambiente." AH.... JOKE!!!
Provavelmente ela estava a fazer queques ou tinha ido matar um veado e o acordo de Quioto passou-lhe ao lado. Sad.

E ontem o Saturday Night Live transamitiu esta visao do debate:
http://www.nbc.com/Saturday_Night_Live/video/clips/vp-debate-open-palin-biden/727421/