sexta-feira, outubro 03, 2008

America

Pessoas.
Fantásticas, simpáticas, acolhedoras. A maior parte nem sabe onde fica Portugal e na aula da universidade onde fui dar uma conferência um jovem perguntou (depois de eu falar de Portugal e mostrar no mapa, e contar um pouco da história de Portugal, etc..) se falávamos espanhol ou inglês. Algumas perguntam se temos televisão, se vamos à escola e espantam-se de eu falar inglês e saber onde ficam os estados do EUA no mapa. Mas todas simpáticas.

Nation. Tem orgulho. Tem esperança. E princialmente tem pessoas que se importam com os que têm menos, que são mais fracos. O sistema capitalista só funciona na América, porque as pessoas de bem dão do seu tempo, do seu dinheiro, da sua vida para ajudar os mais fracos. O sistema capitalista não funciona. O que funciona, descobri esta semana, é o coração dos americanos.


Gente que dá horas de serviço comunitário, dias de ajuda. Que dá dinheiro, recursos, educação. Esta última semana. visitei várias agencias de ajuda na cidade de Nashville. Gente que constrói do nada albergues para sem abrigo e que lhes dá "esperança" a directora disse: "Temos que primeiro que tudo dar-lhes afecto, empatia. Eles têm que se sentir compreendidos, aceites. Só depois nos dizem as verdadeiras razões porque vivem na rua. Se não sentem isso dizem que é porque escolheram, porque não querem viver nesta sociedade. Só quando confiam em nós relatam as famílias que se desintegraram, os empregos que perderam, as casas que deixaram de poder pagar. Então depois podemos ajudar." Como? Aulas de arte, musica, espiritualidade. Em simultâneo dão comida, roupa, dormida e têm pessoas que os ajudam a encontrar-se e a encontrar emprego novamente. Algumas pessoas que lá trabalham foram ex-sem-abrigo também. Mais do que comida e abrigo (já agora as igrejas de toda a cidade abrem as portas nos meses de inverno e os sem-abrigo dormem nas igrejas. Não destroem os templos e salões sociais? Não. Têm cuidado porque percebem o quanto lhes é dado). Esta instituição oferece um plano para sair das ruas. Mas primeiro aceitam-nos, respeitam-nos, fazem-nos sentirem-se bem com eles próprios, só depois vem o plano para sair de onde estão na vida. 50% dos ajudados deixa de viver na rua.

Gente fantástica. contarei mais sobre estas pessoas que dão de si. Esta semana vi gente a cuidar de crian,cas de adolescentes, de velhos, de gente que perdeu a casa (gente que tem trabalho, que sempre trabalhou, mas que por causa de uma doença perdeu tudo). Gente a lutar contra a pena de morte, que na realidade só mata os negros e os pobres. Aqueles que não conseguem pagar a um bom advogado. Só para estatística. No Estado do Tenassee há 120 pessoas no corredor da morte. 4 (quatro) tiveram dinheiro para contratar um advogado privado. Todos os outros tinham advogados atribuídos pelo Estado, normalmente advogados que ninguem quer contratar - Destes advogados que defenderam estes casos de pena de morte, 50% era o seu primeiro caso e 25% foram mais tarde expulsos da ordem por alguma razão. Dos que estão no corredor da morte. 70% são negros. Não porque haja mais criminalidade negra. Mas porque os negros são os mais pobres.

Eu sempre acreditei que as coisas na america funcionavam. Que a lei do mercado, desde que houvesse trabalho e oportunidade funcionava. Em Nova Iorque vi toda a gente a trabalhar, com ar feliz. e pensei: Acho que é importante o Estado providenciar, reformas, assistencia social, mas aqui o sistema parece funcionar. Mas o sonho americano é diferente visto por dentro.Os pobres da america. E cada vez são mais, devem a sobrevivência à generosidade das igrejas e das pessoas de bem. O sistema deixa de fora os que não têm sorte. Num post antigo eu dizia que a America é a terra das oportunidades e Portugal é o país da sorte. Continuo a achar que é a terra das oportunidades. Mas temos que ter a sorte de não adoecer, de encontrar as pessoas certas que nos ajudem...


Give me your tired, your poor,
Your huddled masses yearning to breathe free,
The wretched refuse of your teeming shore.
Send these, the homeless, tempest-tossed, to me:
I lift my lamp beside the golden door.



"Dêem-me os cansados, os pobres, suas massas apinhadas,
que anseiam por respirar em liberdade.
A recusa desventurada de seu porto abundante
envia a mim esses desabrigados assolados pela tempestade.
Ergo a minha chama ao lado do Portão Dourado.


Isto é o que está escrito numa placa na base da Estátua da Liberdade, e ainda que a política Americana não viva por esta regra, a maior parte dos americanos, não esquece como é que os seus avós chegaram à America e que retribuir as bênçãos que recebe de Deus.

1 Comments:

Blogger Pedro Leal said...

"O sistema capitalista só funciona na América, porque as pessoas de bem dão do seu tempo, do seu dinheiro, da sua vida para ajudar os mais fracos."

Bom, esta é uma decorrência lógica do sistema. O Estado não é "providência", logo têm que ser os cidadãos a tratar dos "desafortunados". Têm mais dinheiro para isso, o Estado não lhes tira tanto em impostos, e, como não podem lançar todas as culpas nas costas do Estado, estão muito mais disponíveis para assumir as suas responsabilidades sociais. Este tipo de mentalidade tem muito a ver com os puritanos que fundaram os EUA.

06 outubro, 2008 13:19  

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