Professora
Com ela aprendi a tenacidade de dirigir jovens, de os animar e encorajar, a dar oportunidades a todos, a tirar o melhor de cada um, a procurar dons a acreditar no melhor de cada pessoa. Com ela aprendi (não muito bem) a fechar os ouvidos às críticas e a saber que há um bem maior. Aprendi a abrir a bíblia e a encontrar os livros, as histórias, o sentido. Intuitiva, empática, desbocada. Paciente. A paciência com que aturava adolescentes (eu incluída) que palravam ineterruptamente durante a escola dominical armados em sapientes biblicistas!!!
Ninizinha. Era como ela me chamava. Ninizinha meu amor, vem cá à mãe. Eu não estou a dizer isso por dizer - e passava a mão pelo cabelo, abanava a cabeçaa e punha a mão no peito - mas tu és especial para mim. Repetia-me ela sempre que me via. Ao longo dos anos esta frase foi-se tornando especial. Pois fui-me apercebendo de que uma mulher de Deus, de grande valor gostava de mim.
Querida Manela. Ela não tinha um pingo de orgulho. viveu segundo o lema: É necessário que o meu Senhor cresça e que eu diminua. Não reconhecia o dom de escrever como seu. Dava tudo o que escrevia: Peças, poemas, jograis... Tudo era para o Senhor que um dia aprendeu a amar e que nunca deixou de servir, engulindo criticas e muita injustiça.
Lembro-me do carro: Sapatos, folhas com poemas meios feitos, outros com muitos anos, lingerie, caixas com bolos que nos trazia para os ensaios, fatos que desencatava numa loja qualquer e trazia para as festas, cabeleiras, pandeiretas, tudo ao molho. Foi com ela que fui pela primeira vez ao Amoreiras, que comi pizza.
Querida Manela, estou a imaginá-la agora a tirar uns toalhetes para limpar umas nuvens assegurando-se que estão suficientemente desinfectadas para se sentar.
Dói-me o facto de estar longe e nao a poder acompanhar à sua penúltima morada. Já sabem no meu funeral, fiquem na igreja a cantar a noite toda, tragam violas um piquenique e fiquem a noite toda a contar histórias da velha Manela. Não pude fazer a tua vontade, mas hoje entre cada avião que tomei lembrei-me das músicas que tu gostavas, relembrei tantos ensaios. Vou ter tantas saudades tuas.
Este ano vieste cantar nas igrejas onde eu estava colocada. A tua voz. A tua inconfundivel voz que cantava para Deus tinha perdido um pouco da força mas não a razão de ser.
Há 3 meses -precisamente dia 12 - vieste ao meu casamento. Estavas tão feliz porque te convidei. Fiquei tão feliz que pudesses vir. Pensei que estavas a ganhar a batalha, estavas magrinhas, cansada, mas o teu sorriso. Sonhei com mais uns tempos. Deste-me o teu último abraço estava eu vestida de noiva. Nunca o vou esquecer. Olhaste-me bem nos olhos e disseste: Desejo que sejas tão feliz! Desejo tudo para ti o que desejo para a Teresa, tu sabes que é verdade! Sim eu sei. Por isso custa tanto.
Acho que ela foi a melhor professora de todos os professores que jamais tive na vida. Adeus minha querida professora da Escola Domical.
Etiquetas: Manuela Oliveira
2 Comments:
a desarrumação do carro e o constante desinfectar de tudo à volta. típico.
:)
Descreveste-a TÃO BEM! Também nunca a esquecerei, e tenho a certeza que um dia nos veremos de novo.
Foi também a melhor professora de escola dominical que eu tive.
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