sexta-feira, fevereiro 29, 2008

E ao 5º funeral...

estou afónica e não o pude realizar.

sábado, fevereiro 23, 2008

Deslizes estéticos

O prometido torce o nariz sempre que ouço ou falo dos IL DIVO, mas mesmo assim é suficientemente generoso para me oferecer os CDs e os Concertos. Longanimidade, temperança são duas das suas caraterísticas. Música melada é uma das minhas.

quinta-feira, fevereiro 21, 2008

... e coisa mais preciosa no mundo não há!

E com um brilhozinho nos olhos veio o Pastor Cavaco da Figueira da Foz- Batista de cepa - fazer o estudo bíblico do Dia Mundial de Oração à trincheira presbiteriana. Estávamos todos entusiasmados. O frisson de fazer algo diferente. O esquecer o que nos separa - até atestou o pastor que acha muito bem haver pastoras (ouçam-no renitentes imersores) - O estudo bíblico ficou um pouco de lado pois o que fluiu foi o partilhar de esperiências e fé. Foi bonito. Para a semana vem outro pastor presbiteriano, mas voltam as senhoras baptistas. E naquele salão cheio do sol de Inverno sonhei com o dia em que se façam Estudos Bíblicos em comum. Temos tanto que nos separa, mas temos tanto que nos une.

terça-feira, fevereiro 19, 2008

House hunting

Agente Imobiliário 1 "A casa fica num sítio muito sossegado, longe do centro de Cantanhede e da confusão (!)" (traduza-se confusão por 20 carros).
Pensamento Alfacinha: "Eu morava em Lisboa o centro de Cantanhede É UM SÍTIO SOSSEGADO!"

Agente Imobiliário 2 "Este Apartamento é muito bom porque a máquina de lavar roupa pode ficar na varanda e se houver algum problema não estraga a casa!"
Pensamento Alfacinha: (!) Não imagino a minha máquina de lavar roupa ao ar livre numa varanda.

Senhorio 1: "São só 2 pessoas, ah este apartamento é muito grande para vocês. Deviam ver o apartamento que eu tenho na praia é um quartinho aconchegado e uma sala com kitchenet."
Eu: Ah mas é que eu precisaria de um escritório.
Senhorio 1: Pois mas este é muito grande! No apartamento da praia até vivia um doutor!!!

Senhorio 2: E vocês são de onde? Trabalham aonde? Têm cá família? Querem viver aqui por quê? E vão ficar por cá muito tempo? Um fiador de Lisboa?... bom daqui era melhor...

sexta-feira, fevereiro 15, 2008

Os pobres


A pobreza tem um rosto feio. Tem cinzelado dor, mágoa ou inveja.
Há os pobres limpinhos, conformados, sofridos que nos sossegam a alma porque até acreditamos que se pode ser pobre e não se perder a humanidade. Há os pobres revoltados que matam, roubam, destroem e esses até podemos condenar porque passam os limites e tornam-se predadores do seu semelhante.

Mas há a pobreza que nos rasga: os pobres que sobrevivem e não têm esperança de viver. As crianças que nunca terão uma aula de ballet ou de música, hipótese de ser bom em alguma coisa. Receptores que passam horas à frente da novelas como entretenimento. As mulheres que esfregam, cozinham, vestem sempre coisas baratas, velhas, de segunda e o fazem sem a esperança de saber que é uma passagem, que há um objectivo, que o fazem porque o filho viverá melhor. Os homens que o deixam de ser e se entregam à ausência tão presente da bebida e da violência. As crianças que repetirão, imitarão, seguirão os mesmos passos do caminho.

A pobreza é desconsolo. Há os pobres espertos, que sabem sacar tudo o que é subsídio, ajuda, esmola contribuição, rendimento de inserção, abono. Vivem de expedientes e de pedincha. Sem horizontes rasgados, apenas tentando sacar o suficiente para objectos e comida que preencham o dia de amanhã.

As casas atafulhadas, atravancadas de cheiros, roupas, quinquilharias. Há os pobres que não têm cabeça para se orientar, que gastam tudo o que têm no supérfluo. Mas só os que têm objectivos, razões ou posses conseguem dar-se ao luxo do frugal, de dispensar o supérfluo.
O olhar é de desafio, vazio ou medo. É de engano, esquivo ou intrusivo. É o olhar milenar que sabe que alguns nunca terão nada. Que alguns nunca serão ninguém mais que um número. A pobreza é mais do que não ter é deixar de ser. É abandono, é o mundo a cinzento, é o travo amargo do mal.
e
E as crianças. As crianças que aprendem o que vivem. Que são muito do que experimentam. que se moldam com os olhares, os tons de voz, e os sentimentos. Que aguentam, que lutam, que sorriem até a adolescência. Que perdoam tanto, que são - até perderem a esperança - a melhor hipótese de mudança. As crianças Senhor. As crianças que vão deixando de sorrir, de perdoar, de esperar. As crianças Senhor. Porque sofrem assim?

terça-feira, fevereiro 12, 2008

E foi o 4º funeral na Cova Gala

Kundera diz que na morte ficamos conscientes da brutal ausência da pessoa que contrasta com a violenta presença do corpo. O corpo existe, está ali totalmente presente, enquanto a pessoa desesperadamente se foi.

segunda-feira, fevereiro 11, 2008

Comme d'habitude


A Igreja do Bebedouro fez um retiro de fim-de-semana com as crianças, adolescente e jovens. Já que eles estavam na Quinta dos Vais (Figueira) decidimos que todos eles viriam à Igreja da Figueira da Foz fazer o culto. Eu e as dirigentes do fim-de-semana (todas mulheres) organizámos e fizemos o culto com as crianças e adolescente. Cantámos, orámos, representámos, falámos, pregámos, etc..

No grupo, estava o namorado de uma das organizadores que não é crente, mas que ajudou com os PowerPoint.
No final, um pastor baptista reformado, que veio de visita assistir ao culto, foi ter com o namorado e deu-lhe os parabéns: "O irmão é o responsável, não é?" E nem deixando responder continuou dizendo, que tudo estava muito bem organizado! Que era muito bonito ver as crianças e adolescentes tão envolvidas no trabalho da Igreja! Que o culto tinha sido uma bênção. O tal namorado ainda tentou dizer: "Eu não mando nada! Elas é que..." Mas o pastor não acreditando que o mulherio poderia ser responsável on their on, insistiu que era bom observar como os líderes sabiam delegar autoridade... et voilà!
Até podemos estar à frente. Parecer e de facto dirigir. Mas basta que exista uma barba rija nas imediações e zás: Somos logo assistentes, adjuntas, assessoras, second in comand! Eheheh...

quinta-feira, fevereiro 07, 2008

Quaresma


MÁS SENCILLA...
Más sencilla... más sencilla.
Sin barroquismo,
sin añadidos ni ornamentos.

Que se vean desnudos los maderos,
desnudos y decididamente rectos.
«Los brazos en abrazo hacia la tierra,
el ástil disparándose a los cielos.»

Que no haya un solo adorno
que distraiga este gesto...
este equilibrio humano de los dos mandamientos.

Más sencilla...
más sencilla...
haz una cruz sencilla, carpintero.
León Felipe
(De Versos y oraciones de caminante)

quarta-feira, fevereiro 06, 2008

Rotas e Destinos


Há 10 anos atrás saía eu da 1ª Igreja Baptista com o coração destroçado. Penso que sair da igreja onde se cresceu é sempre doloroso. Nada pode substituir o sentimento, as memórias, o sorriso que anos de convívio nos dão. Da 1ª guardo muitos amigos, muito conhecimento bíblico e mega-produções teatrais.

Desci 2 estações de metro, Almirante Reis abaixo, e acolhi-me na Igreja Presbiteriana de Febo Monis. Nessa altura os jovens da comunidade tinham um projecto chamado "Igreja Aberta" e todas as terças-feiras um grupo de jovens abria a igreja e dispunha-se a conversar com pessoas que quisessem entrar na igreja para falar de fé ou da vida, para tomar um cafezinho, ou somente entrar no templo e ficar em silêncio.

Ao longo dos anos que funcionou, as pessoas foram debandando e ficaram apenas dois resistentes: o conversado e eu. Passávamos horas a conversar (mais eu) e a tocar viola (mais ele). Ficámos amigos. Mas foi preciso eu ir para Espanha para que a saudade nos explicasse o que achava de nós.

Lisboa, Madrid, Lemede. A distância é uma presença na nossa relação.

Ontem ficámos noivos e eu estou muito feliz. Há 10 anos atrás a Febo Monis foi porto de abrigo. Querendo Deus em Julho será cais de partida.

sábado, fevereiro 02, 2008

Carnaval

E no domingo passado 2 meninas assistiram ao culto mascaradas, uma de princesa e outra de enfermeira. Duas profissões nobres. As meninas pagãs e recentes na igreja não sabem dos códigos não escritos de não ir mascarado para um culto. Os crentes olhavam-me para ver se eu diria alguma coisa contra. A passagem falava de como Jesus tinha escolhido a Galileia dos Gentios para começar o seu ministério. Assim fiz o mesmo. Nada disse sobre as meninas que tal como Cafarnaum ainda não tinham ouvido falar de como se "deve estar" na comunidade dos seguidores de Cristo.

Confesso que racionalmente não tive nada a obstar, mas os anos de igreja fizeram-me sentir o incómodo interior.

sexta-feira, fevereiro 01, 2008

As bem-aventuranças


Ontem num estudo bíblico uma senhora dizia que Jesus nos convida a ter um coração de pobre. E eu fiquei a pensar o que é isso do coração de pobre?

E vejo que esta ideia romântica é uma catequese do Estado Novo, onde os pobres eram pessoas que se contentavam com a sua sorte. Eram pobrezinhos sossegados, alegres, felizes, que não invejavam nada que amavam os seus vizinhos. Só a classe média pode pensar que um coração de pobre é esse ideal misto de sofrimento resignado e contentamento minimalista. Os tais bons pobres de quem a minha avó dizia "Ai mas são muito limpinhos!"

Odeio esta concepção cega de exaltar a pobreza como se fosse uma virtude e de que os pobres são sempre bons. Há pobres horríveis, destruidores, canalhas. A verdadeira pobreza (não o despojamento) não é algo de que nos devamos orgulhar. A privação, a dependência, a fome, a humilhação de não se ter o essencial é uma vergonha que impede a dignidade humana.

Não vejo nas bem-aventuranças um convite ao contentamento, resignação ou aceitação da injustiça. As bem-aventuranças são um brado de guerra. São subversão de uma sociedade estratificada e estanque. De uma sociedade purista e ritualista que esquece que o coração dos homens tem direito à dignidade. As bem-aventuranças são eco dos discursos proféticos de mudanças, justiça e libertação.

Felizes os pobres, os que choram, os que são perseguidos porque o Senhor vem! E com ele vem a vida eterna, a alegria a libertação.

Felizes os pacificadores, os mansos, os sinceros, porque eles são agentes de mudança trazendo ao mundo paz, misericórdia, justiça.

As bem-aventuranças não são condição para entrar no Reino, são a realidade que o Senhor transformará quando vier.