quarta-feira, setembro 10, 2008

Dois homens dois destinos


o A. vai entrar no convento. O M. está numa cama de hospital em coma. 50 anos. Um AVC. Os dois brilhantes. Os dois homens de fé. O M. é de um saber enciclopédico. A pessoa mais culta que eu conheço. Fala meia dúzia de línguas fluentemente e arranja-se em mais outras tantas. Devora livros e sofre. O M. é uma alma atormentada que não consegue suportar as injustiças do mundo. Lutou pela felicidade e pela paz. dirigiu a Amnistia Internacional, construiu casas en bairros de lata, fez alfebetização, procurou a Deus, foi Menonita, sonhou uma comunidade de comunhão, foi seminarista, pregou o amor, despertou vocações, levou a luz de Deus a pessoas que viviam de reflexos da religião, foi profeta do Reino de Deus para o mundo, mas não conseguiu preencher o vazio doloroso que lhe consumia a existência, duvidava das suas capacidades, amava os outros, não se conseguia amar a si mesmo, sucumbiu ao ódio. Procurou o amor e perdeu. Desistiu do amor. Desistiu da paz. Desistiu de Deus. Numa cama de hospital visitam-no amigos aterrados com a perspectiva da sua morte. Senhoras de 90 anos, jovens da igreja, velhos amigos da escola, das tertúlias, da Buchholz, universitários que descobrem agora a política e cultura, skin-heads perdidos, todos se juntam religiosamente na sua cama de hospital e rezam, oram, invocam Thor. O M. é uma referência, é uma alma boa que ninguém quer ver partir. Há pessoas que são engolfadas pelas suas almas. O A. vai entrar num convento porque busca a Deus. O M. está numa cama de hospital porque se zangou com Deus e a sua alma não aguentou a dôr.