O mundo da Lisdália
A Lisdália anda por aí... dorme onde calhar, vive de espedientes e deixa a raiva crescer dentro dela.
Não conseguiu guardar a luz que a prendia à vida: a Bianca, e afoga-se na dor ao percorrer a estrada que leva a destruição. A Lisdália é uma menina das duras. Alguns de nós reagimos ao castigo tentando não repetir a acção que nos faz incorrer no castigo. A Lis atira-se de cabeça para o lado errado da vida: Como se tivesse um íman interno que a faz ficar atraída pelas coisas que lhe vão trazer sofrimento e desastre.
A Lis rejeita a ajuda, afasta quem gosta dela e alimenta o ódio contra todos os que não estão cheios de raiva como ela... Por mais que eu o a Elsa a queiramos ajudar, nós somos as duas betinhs de vida confortável que não sabem o que é a vida...
Estas meninas que crescem em lares não são os pobres bem comportados que aparecem na catequese cinematográfica do Estado Novo. Os pobrezinhos honrados e agradecidos, que imploram ao céu a bênção para a caridade dos senhores, não existem. Aquela pobreza envergonhada a quem nós gostamos de ajudar e nos satisfaz o ego não está presente nestes jovens que sentem que a vida lhes devia ter dado um pouco de felicidade. Porque lhes foi roubada a infância, exigem na adolescência e juventude tudo a que acham que têm direito: roubo por roubo, dôr por dôr, vingança por vingança... é uma guerra e vai haver baixas...
A Lis é a menina que vos pode roubar a mala por esticão, que fica a ver se a polícia entra no bairro para avisar os traficantes...a Lis é a menina que podem ver de noite a caminhar...
Não vos vai despertar pena ou compaixão... ela prefere que lhe batam ou gritem que ver nos vossos olhos a compaixão intrusiva de saberem que foi injusto tudo o que aconteceu... prefere o ódio à compaixão... é uma menina dura... aprendeu a defender-se... e a comiseração ou pena é algo que qualquer de nós abomina... No fundo qualquer um de nós prefere ser um duro a um coitadinho...
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