quinta-feira, maio 25, 2006

O meu lado lunar



Adoro o campo, as árvores e as flores,
Jarros e perpétuos amores;
Que fiquem perto da esplanada de um bar,
Pássaros estúpidos a esvoaçar.

Adoro as pulgas dos cães,
E todos os bichos do mato;
O riso das crianças dos outros,
Cágados de pernas para o ar
GNR

Aqui vou eu para o campo... Deveria estar exultante de deixar Lisboa... acontece que embora eu seja lisboeta de segunda geração, vou regularmente passar férias no campo e vivi UM ANO na Serra da Boa Viagem perto da Figueira da Foz, e por isso sei o que é VIVER NO CAMPO. Passo explicar... Aquela visão idílica de que se disfruta de campos floridos, aromas silvestres e bucólica paisagem... é bastante relativo. No campo as casas têm os bichos que vivem no campo. (e na verdade os bichos têm todo o direito de viver aí, eu é que não gosto de conviver com eles) Devo acrescentar que no campo, (deve ser do bom ar e alimentação) os insectos e rastejantes são todos ENORMES. No ano em que vivi na Serra da Boa Viagem, foi o ano em que no Senhor dos Anéis, o Frodo tinha que lutar com aquela supostamente abominável aranha, pois para mim aquela parte do filme foi fantástica. Ora ali estava uma aranha que eu não tinha que matar... para mais, como vivia sozinha não podia apelar aos seres humanos genéticamente preparados para o extermínio de insectos, rastejante e afins que todos os dias apareciam. (Sim Deus criou os homens com esta habilidade específica). Assim ao princípio, e na falta dos peritos, a minha técnica consistia em avançar corajosamente em direcção à aranha (tentando estar o mais longe possível dela) e atingi-la enquanto fechava os olhos para não ver a bodega em que aquelas nojentas animalárias peludas e rochunchudas se transformavam ao serem parcial ou totalmente esmagadas pela vassoura... lógico que com os olhos fechados nem sempre as atingia e lá tinha que continuar... Só que no dia seguinte, lá estavam mais... Ah! é verdade... e quando finalmente lá para o verão me habituei à matança... tive de suportar os olhares horrorizados de algumas amigas minhas que foram lá passar uns dias e olharam para mim como se eu fosse godzilla e não percebiam como é que eu simplesmente trucidava aranhas entre um displecente, "liga aí a torradeira" e "passa a manteiga"...

Depois há as formigas, que na versão campo, são 5 vezes maiores que as congéneras citadinas. Ora o problema das formigas é que embora eu não tivesse que lutar corpo a vassoura com elas… as tontas criaturas não tinham a decência de ir morrer longe! Fosse com pó ou com o insecticida, com que eu revestia os meus rodapés, os productos matavam-nas mas não as faziam desaparecer... Além disso seria de esperar que um exército de trabalhadoras tão disciplinadas como é suposto que sejam as formigas tivesse alguma espécie de consciente colectivo que as advertisse que se durante 10 dias seguidos todas as irmãzinhas que se dirigiam ao lava-louças morriam, as probabilidades que os batalhões que se dirigiam para o mesmo sítio tivessem a mesma sorte as demovesse…mas não… E havia as caracoletas que se passeavam paredes acima e paredes abaixo (sei que para alguns isso seria como viver com uma empresa de catering ao domicílio...mas eu não gosto de caracóis...sorry...) E os bezouros, gafanhotos, libelinhas e toda essa bicharada que entrava assim que eu abria uma janela... para não falar das melgas...(Grrrr...@#%&$)!!!

Depois fora de portas os campos rejuvenesciam de verdes ervas… no meio das quais se podem encontrar cobras de água. Os autoctones dizem que não fazem mal nenhum... mas eu perguntava-me e se são cobras de água porque não vivem na água em vez de se plantarem na minha soleira da porta? E que lindo que é o orvalho logo pela manhã, que cobre e revitaliza o solo... sim é muito lindo... se não se tem que passar com uns sapatos de camurça pelo meio da orvalhada e se fica com os pés humidos o dia todo...

E depois há aqueles quadros românticos onde se vê alguém a ler um livro debaixo de uma árvora frondosa... hum... vamos a ver... quantas vezes é que nós vimos um camponês a ler debaixo de uma àrvore por mais frondosa que fosse? As minhas tias-avós, ambas camponesas quando olhavam para "os de Lisboa" a fazerem este tipo de coisas tinham um sorriso maroto de ancestral sabedoria. É que as minhas tias conheciam as moscas do campo... Ora as moscas da cidade são umas criaturas que quando poisam sobre nós fazem cócegas... As do campo que têm que fazer p´la vida porque não há monturos de lixo espalhados ao Deus dará, têm que morder, picar e ferrar a bicheza que se lhes passa à frente e neste caso a bicheza somos nós... Assim a única maneira de se ler ao ar livre no campo é com um fato de apicultor... As moscas campesinas muito maiores que as dandies da cidade ferram e sugam o nosso sanguezinho... e isso dói...

E perguntam-me vocês e a calma do campo? Ah... a calma do campo... claro se não contarmos com os toques de buzinas altisonantes de todas as carrinhas de comestíveis que passam várias vezes ao dia: tipo às 7 da manhã passa o padeiro e buzina, depois às 2ª, 4ª, 6ª passa a carinha do peixe buzinando de tal maneira que faz com que o som do estádio do benfica pareça um sussuro suave e meigo... e ainda há a carrinha da merceeira, do bacalhau, do outro padeiro que traz um outro tipo de pão mas que buzina forte como todos os outros... eu sei lá... Os galos que desatam a "cantar" às 5 da manhã, o sino da igreja que qual laranja mecânica me obrigava ouvir o avé maria a cada 1/2 hora e a questionar as minhas inclinações ecuménicas....

Pronto aqui vai o meu lado lunar: odeio os bichos do campo e a sua horrível mania de invadir o fantástico betão de que são feitas as casas...

6 Comments:

Anonymous Anónimo said...

pronto, pronto... na minha lista de presentes de natal, já tá uma caixa de repelente e uma rede mosquiteira... oh..oh..oh..

30 maio, 2006 19:03  
Anonymous Anónimo said...

fui eu que escrevi, a marta

31 maio, 2006 14:59  
Anonymous Anónimo said...

Estás a esquecer a baba dos cães cehios de calor (pois como sabe stranspiram pela boca), o cheiro dos dejectos dos animais, os pelos da maior parte dos bichos....etc....etc...e o facto da tua melhor amiga ser "doida por bichos e por ti"...advinha quem escreveu

06 junho, 2006 20:22  
Anonymous Anónimo said...

Hmm I love the idea behind this website, very unique.
»

08 junho, 2006 12:50  
Blogger mulheres_estejam_caladas said...

ehehehhe....obrigada amiguinha!!! é verdade mas eu até gosto do Baltazar...mesmo lembrando-me das viagens com ele a babar-se no meu ouvido..bjs

10 junho, 2006 00:08  
Anonymous Anónimo said...

Nice colors. Keep up the good work. thnx!
»

22 julho, 2006 16:52  

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