segunda-feira, março 17, 2008

Metamorfose


Quando temos 40 anos, já vivemos o suficiente para vermos as crianças da nossa vida tornarem-se homens e mulheres. Os bebés que vimos nascer, as crianças que trouxemos ao colo, os adolescentes fixes, divertidos, entusiastas que vimos tornarem-se jovens, de repente são homens e mulheres com a sua própria maneira de ser - adultos inteiros. Sorrimos com a ternura. Orgulhamo-nos com os sucessos e interrogamo-nos porque alguns se tornaram em algo que não gostamos.

E de repente parece que a ligação se cortou. Não reconhecemos valores. Olhamos incréduos para sinais que indicam posturas, posições e arquétipos. Indignamo-nos com escolhas, mas eles já não são nossos, cresceram e a vida é-lhes entregues para eles escolherem caminhos.
E choramos, porque ainda que não fossem nossos sonhámos-lhe um futuro. Acreditámos - sem razões é certo - que seriam como nós, que acreditariam no que acreditamos. Queriamo-los livres - dissemos - mas no fundo queríamos que fossem livres dentro dos nossos pressuposto e valores.

Mas são livres. São homens e mulheres. Têm o direito a serem como são. Os bebés, crianças, adolescentes da nossa vida seguem o seu caminho e a nós parece que fomos roubados do adulto que esperávamos que fosse - ainda que não tivessemos o direito de o esperar.

Criticamos - apenas porque dói. Choramos - porque nos sentimos defraudados. E rasga-nos a alma sentir que aquele adulto - a quem um dia amámos ainda em crescimento e projecto - já não nos é simpático.

1 Comments:

Blogger Ana Rute Oliveira Cavaco said...

não deve ser muito diferente com os filhos, com as escolhas que farão. e deve doer tanto.

18 março, 2008 00:45  

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