quarta-feira, janeiro 16, 2008

Os pobres, a inveja, a segurança social e as vizinhas


Ainda sobre a Ana a Tatiana e a avó. (Dezembro 13)

A avó da Ana e da Tatiana, a Maria, fugiu de onde vivia pois o filho e a companheira viviam da droga. Chegada à Cova sem casa, procurou e uma antiga amiga emprestou-lhe uma casa velha.

E quando a Igreja de Portomar chegou à Cova Gala com presentes, muitos presentes, a senhora que tinha emprestado a casa à avó sentiu ciúmes de tanta atenção e decidiu despejá-la. Levanta-se a aldeia contra tal decisão - e nestas localidades o peso da opinião pública ainda conta - Pode ficar a avó com as meninas na tal casa velha.

Mas chega a segurança social. Pois que a casa é velha e não tem condições (embora a avó tenha feito algumas obras) e como a avó não vive na freguesia há mais de um ano, não há hipótese de uma habitação social. A solução encontrada pela assistente social da Câmara da Figueira é retirar as meninas à avó, embora não hajam sinais de abuso ou negligência, mas como a casa tem poucas condições, envia-se relatório aconselhando a separação.

Corre a avó por toda a vila, alvoroçasse o povo: que não é justo, que a Maria trata bem das meninas, que elas nunca faltam à escola e andam limpinhas e sem fome.
Passa uma semana com a Maria com o coração nas mãos. Vai à Junta de Freguesia, ora na Igreja, vai à Cooperativa da Habitação social, à assistente social da Freguesia e da Protecção de Menores.

Marca-se nova entrevista. Desesperada a Maria pede que eu esteja presente, quem sabe pensa que as assistentes sociais terão mais respeito por mim do que por ela...

No dia marcado as vizinhas juntam-se à porta querem mostrar solidariedade e asseguram-me que a Maria é uma boa avó. Chegam as 3 assistentes sociais de duas IPSS, mais uma psicóloga. "São umas miúdas - comentam - veja lá a senhora pastora... e são elas que decidem a vida da gente!..."

Chegam as técnicas que simpaticamente asseguram que não, que não se põe a hipótese de retirar as crianças, pois os relatórios da escola e da outra assistente social do sítio de onde migrou a Maria não indicam nada nesse sentido. Vêm apenas para ajudar...
É preciso mudar de casa. Até pode haver ajudas.

A pergunta permanece: Porque é que uma assistente social disse algo que pôs o coração da avó cheio de medo, já que o problema não era maltrato, mas pobreza?
O desrespeito pela vida dos que de algum modo estão ligados a nós, ou que dependem de nós é grande.

Está agora a Maria à procura de casa. Para ter ajuda é necessário um fiador. Talvez seja preciso um mês de caução. Na França o marido da avó está a trabalhar há apenas 2 semanas, ainda não pode mandar dinheiro. Na mesma casa mora ainda uma velhota que a Maria recolheu pois não tinha onde viver.