sexta-feira, dezembro 21, 2007

do Mestre

"Quem sou eu?
Dizem-me muitas vezes que saio da minha cela
Sereno, risonho e forte,
Como um nobre no seu palácio.


Quem sou eu? Dizem-me muitas vezes
Que falo com os carcereiros
Livre, amistosa e francamente,
Como se fosse eu a mandar.

Quem sou eu? Dizem-me também
Que suporto os dias de infortúnio
Com indiferença, sorriso e orgulho,
Como alguém acostumado a vencer.

Sou realmente aquilo que os outros dizem de mim?
Ou serei apenas aquilo que eu mesmo sei de mim?
Intranquilo, ansioso, enfermo, qual pássaro enjaulado,
Aspirando com dificuldade a vida, como que estrangulado?
Sedento de cores, de flores, do canto das aves?
Sedento de boas palavras e da proximidade humana?
Tremendo de cólera diante da arbitrariedade e dos mais pequenos agravos,
Agitado por esperar grandes coisas?
Impotente e temeroso pelos amigos que estão infinitamente distantes,
Cansado e vazio para orar, pensar e acreditar,
Esgotado e disposto a despedir-me já de tudo.

Quem sou eu? Este ou aquele?
Serei este hoje? E aquele amanhã?
Serei os dois ao mesmo tempo? Um hipócrita diante dos homens,
E diante de mim mesmo um desprezível e um débil queixoso?
Ou será que o que em mim resta é semelhante a um exército abatido
Que se retira desordenado diante da vitória que lhe foi arrebatada?
Quem sou eu? As perguntas solitárias fazem troça de mim.
Seja eu quem seja, Tu me conheces Senhor, Sou teu.
Oh. Deus!”

Em "Um amor assim tão grande" D. Bonhoeffer
Storm at Sea, Brahma Art Studio