sábado, fevereiro 24, 2007

Não tenham medo 2


O medo é um fôlego de sobrevivência.
O medo pode ser algo saudável que nos ajuda a não destruir a nossa vida. Ensina-se às crianças a ter medo de algumas coisas como forma de prevenir acidentes. O medo pode ser uma ferramenta de vida.
O problema é quando o medo se torna o motor da vida, quando toma conta de nós e governa as nossas decisões e tempo. Quando o medo é aquilo que nos impela a tomar decisões e nos impede de sonhar mais e diferente, então é quando o medo se torna algo negativo.

Pegar no medo e transformás-lo em força construtiva e de serviço ao homem foi o desafio de Jesus.
Penso que Jesus sentiu medo. Medo da peso da sua missão, da sua humanidade frágil e sofrida. "Pai se possível passa de mim este cálix" é uma frase de dor e medo do futuro, mas ninguém como ele enfrentou os seus medos, dúvidas e inseguranças e confiou no poder do Espírito de Deus. Ninguém como ele reconhecendo a sua humanidade, tornou sua a vontade do Pai.

Muitas vezes negamos os nossos medos, porque receamos o julgamento dos outros, pensamos que nos verão como fracos, que podemos ganhar um rótulo de pessoa fraca e incapaz de realizar as tarefas a que se propôs... Mas um homem que não conhece os seus limites e aceite os seus medos nunca os poderá vencer... Só percebendo, aceitando e trabalhando os meus medos eu os posso vencer e ultrapassar...
Só quando eu reconhecer os meus medos, podem os homens ver em mim alguém humilde e estar abertos à mensagem do evangelho... Pensar que não se tem medos, que sempre se vai vencer os medos é uma sobranceria que afasta o outro e cria uma máscara de falsa fortaleza. A minha força deve firmar-se na partilha da certeza de que não sou perfeito, que erro, que me engano - Esta verdade-força fortalece-me a mim e transmite coragem ao meu semelhante. A minha máscara de suposta infalibilidade esmaga o outro e não o deixa aproximar-se de mim...

O medo é humano, e só se sendo humano se pode deixar de ser desumano e tocar a humanidade.
Pintura: My heart is in your hands, Barbara Bagshaw.