Onde estava Deus no dia em que a Sara morreu?
No meio de milhentos blogs cristãos que defendem o NÂO ao aborto, não encontro NADA sobre a violência contra as crianças...
Porquê esta cruzada a favor das crianças que são mortas antes de nascer e nem uma sílaba chorando a sorte das que são mortas depois de horas, dias, meses anos de maus-tratos? Porquê dois pesos e duas medidas?
Porque se calhar é fácil ser contra o aborto. Não custa NADA. Ganha-se uma aura de santidade, acreditamos que temos estatura moral, sabemos estar a cumprir a vontade de Deus. Sepulcros caiados de branco que aparentamos que nos importamos com a vida, mas na verdade só nos importamos até ao ponto de que o facto não tem nada a ver connosco.
Ser contra o aborto significa acreditar que Deus cuida de cada criança e que ele tem um plano para ela, que cada criança sendo una criatura onde Deus sopra a alma vivente tem o direito à vida e que eu, como terceiro a quem foi destinado a tarefa de a nutrir para o mundo, não tenho o direito de por conveniência própria, aborta o seu direito à vida. Acredito em tudo isto. Mas choca-me que esta excitada cruzada militante a favor de crianças que ainda não nasceram, conviva paulatinamente com um desinteresse, descaso e indiferença assassina com que a maior parte dos evangélicos assiste impávido e sereno a este assassínio macabro.
É impossível ser CONTRA o aborto e SILENCIOSO sobre estes casos.
A Sara morreu porque a igreja não cumpre o seu papel de pastorear o mundo!
A Sara morreu porque as igrejas muito preocupadas com campanhas evangelisticas, cruzadas moralistas e lutas internas se esqueceu dos mais pequeninos de Jesus.
As Saras deste mundo são os Lázaros que vivendo paredes meias com as nossas salas de culto, igrejas centenárias e centros cristãos, são desprezados e ignorados.
A Sara morreu porque nós, entretidos que estamos, em temas gerais esquecemos que os fetos nascem e se tornam crianças. E se lutamos para que algo nasça somos responsáveis pelo seu bem-estar...
A próxima vez que se lembre de uma frase bombástica sobre o NÃO AO ABORTO, não abra a boca sem se empenhar a sério na vida destas crianças que sobram na nossa sociedade. ~
Da próxima vez que criticarmos a camarada Odete, pensemos que ela já fez mais pela probreza em Portugal que muitos de nós.
A próxima vez que concordarmos com as tias bafientas que vão à televisão afirmar-se o mais possível a favor da vida, lembremo-nos que a não ser que estejamos a cuidar de uma vida fora do nosso circulo familiar, não temos legitimidade para criticar ninguém...
Este tema tem a ver com legitimidade e não com retórica.
O que nos dá legitimidade para defendermos a vida se nós quando a Sara chorava pela última vez não estávamos lá para a salvar?
Deus está diáriamente junto de nós dizendo: Escuta! Olha! Vê! Vai! Actúa!!!
Nós não escutámos e a Sara morreu?
A Igreja foi enviada a ser a luz do mundo, não a defender causas! somos enviados a fazer e não a dizer!
Os números estão por aí.
Entre 2202 e 2004 , mais de sete mil crianças foram referenciadas pelos serviços de saúde, como tendo sido vítimas de abuso.
Não podemos dizer que não sabíamos.
10 Comments:
Vivemos numa sociedade (composta por pessoas que são) indiferente(s) ao sofrimento do seu semelhante. Neste caso, como em muitos outros, cabe à(s) Igreja(s), qualquer que seja a sua confissão/denominação, zelar para que, pelo menos os seus "seguidores",não sejam indiferentes ao que se passa à sua volta. Cabe-nos também enquanto cidadãos despertar as consciências. Mas não podemos desistir da vida, esteja ela em que fase estiver, só porque as pessoas são indiferentes, ou porque as "tias bafientas" fazem "campanha" pró-vida...
Aqui o que está em jogo é o direito à vida daqueles que não têm voz!
Ana
Exacto:
O DIREITO À VIDA DAQUELES QUE NÃO TÊM VOZ.
Porque ninguém ouviu a voz da Sara. Ninguém ouve a voz dos milhares de crinças espancados todas as noites nas casas portuguesas com certeza.
Sei que não é um caso de "either or".
Mas o que me choca é tanta militância por uma causa nobre, mas que não dá trabalho nenhum que não seja a retórica, e uma indiferença mortal pela MESMA CAUSA: o direito à vida dos que não têm ainda voz" - o abuso de crianças.
Escolhe-se o aborto, porque defender este direito à vida nas crianças vítimas de abuso exige mais que retórica. Existe empenho, abnegação e dádiva...
O que me dá raiva não é que os crentes sejam a favor da vida. SÓ PODIAM SER! Mas acharem que essa é a mãe de todas as batalhas... e Sentirem-se satisfeitos com pafletos, discursos e blá blás moralistas...
Acham que as crianças têm direito à vida. CLARO. Por isso só têm que criar as condições para que elas vivam... As igrejas que lutam pelo SIM à vida e o NÂO contra o aborto só deveriam, por uma questão de ligitimidade, entrar no diálogo se suportassem, ajudassem, abrissem casas para mães solteiras, lares para crianças maltratadas, Espaços de refúgio e ajuda para mães e crianças. Os que não o fazem são apenas gente superficial que não percebe que aquela vida que se deve defender no ventre materno tem tanto direito ao calor, à comida ao afecto como cada um de nós. E que cada crente é responsável por essas vidas que se acha que deve nascer. Nús viemos ao mundo e nús voltaremos para a terra. Somos mordomos dos recursos humanos, não somos donos. A sara merecia a nossa proteção.
Concordo com a sua indignação relativamente ao caso da Sara e aos casos de tantas crianças que sofrem maus tratos nas famílias e nas instituições que as tutelam. Mas continuo a pensar que aqui o que está em causa é mesmo o direito à vida.
O referendo tem este lado positivo, que é o de questionar a consciência de cada um sobre o que tem feito ou o que pode fazer nestas áreas.
Profissionalmente lido com crianças há bastante tempo, crianças do meio rural; sempre que surge uma situação de violência doméstica, o caso é encaminhado para instituições do estado que têm como responsabilidade o seu acompanhamento. Têm sido relativamente poucos os casos, mas basta que haja um só, para ser demais!
A Igreja a que pertenço também tem trabalhado nestes domínios: o do acompanhamento das mães solteiras e o do apoio às crianças. Podia ser feito mais? Claro que sim! Os cidadãos podiam fazer mais? Claro que sim!
Mas o governo podia estudar políticas de acolhimento a cada criança que nasce, sem condicionar a sua acção por medidas de restrição económica.
Ana
É verdade, verdade e verdade que nós igreja estamos cada vez mais fechados sobre "nós" próprios. Onde está o verdadeiro "amor" ao próximo? Amá-lo como a nós mesmos?? Limitamos-nos a, religiosamente cumprir a ida ao culto, e ficamo-nos por aí felizes e contentes porque a nossa vidinha nos corre bem... e falo MUITO por mim... é tão difícil libertarmos-nos desta carapaça que nos "ata" os braços ... SOFRO pelas crianças que morrem mas não faço nada por elas...
Sinceramente, até nesta questão "fácil" como o referendo ao aborto ... estamos apagados! Não temos qualquer voz activa na sociedade, enquanto evangélicos...
DTA
coincidência ou não, ontem pensei muito nisso. e escrevi sobre isso.
Neste domínio do sofrimento humano: quer o das mulheres que abortam, quer o das mulheres que decidem o contrário e o das crianças que são maltratadas, são espaços onde pode haver um trabalho ecuménico, onde crentes de várias Igrejas podem dar as mãos no sentido de ajudar as pessoas que estão a passar por "momentos" de dor. O que aqui está em causa é mesmo o ser humano! Ana
Este comentário foi removido pelo autor.
Nini, acho que entendi a coisa mas a tua indignação neste post dá-me vontade de ser a favor do homicídio assistido de criancinhas. Perdoa-me a falta de anti-anti-santidade.
mas pelos vistos tu tb não estavas lá...qd a Sara morreu...por isso não entendi pq tu podes escrever este post e os outros todos não podem escrever sobre o aborto...
(a mim tb me custa ver que há organizações que cuidam de animais abandonados e olhar para a rua e ver que há pessoas que vivem muito pior do que alguns animais)
DTA
Lai
tem razão Lai. Eu não estava lá. E porque eu não estava e porque todos os domingos prego sobre como devemos ser igreja, porque todos os domingos faços discursos retóricos sobre o amor ao próximo. senti quando a Sara morreu que mais uma vez falo mais do que faço. Acho que sensibilizada por esta realidade, olhei de forma diferente para esta questão do aborto. Não me estou a demarcar dos cristãos retóricos. A critica é também auto-criticas.
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