sexta-feira, janeiro 05, 2007

Crónicas da vida na aldeia


Bebedouro, 1967
Dois homens seguem de bicicleta por uma estrada no meio de campos cultivados. O segundo homem olha nervoso à sua volta, não quer ser notado e deixa que a distância entre os dois cresça. A bicicleta roda através do entardecer e o segundo homem pergunta se terá que esperar muito mais tempo para chegar, ele não quer ser visto a seguir o primeiro homem... A aldeia é pequena alguém o pode reconhecer... aumenta um pouco mais a distância, à frente fica a passagem de nível... pode haver gente por perto... olha para o céu, está a ficar cada vez mais escuro... "Menos mal!" Na escuridão ninguém o verá... Durante mais dois quilómetros o segundo homem segue o primeiro, sente-se ansioso, não sabe o que vai encontrar, há muito que quer saber como serão essas reuniões de que a gente fala mas que poucos se atrevem a assistir... as comadres da aldeia comentam... aquela gente não é de fiar... o segundo homem hesita, será que está a fazer bem em continuar aquela aventura? O que dirá a mulher? Como reagirá a sogra quando descobrir... Pára a bicicleta olhando o primeiro homem que se afasta... Fará bem em o seguir?... A dúvida percorre o corpo, mas a vontade de conhecer o desconhecido é mais forte. Sobe para o celim e pedala com força. Está decidido. Hoje é a noite em que vai assistir a uma dessas reuniões dos protestantes...
Pintura: Mountain, jmarkinman