Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Vivem pros seus maridos, orgulho e raça de Atenas
Quando amadas, se perfumam
Se banham com leite, se arrumam
Suas melenas
Quando fustigadas não choram
Se ajoelham, pedem, imploram
Mais duras penas
Cadenas
Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Sofrem por seus maridos, poder e força de Atenas
Quando eles embarcam, soldados
Elas tecem longos bordados
Mil quarentenas
E quando eles voltam sedentos
Querem arrancar violentos
Carícias plenas
Obscenas
Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Despem-se pros maridos, bravos guerreiros de Atenas
Quando eles se entopem de vinho
Costumam buscar o carinho
De outras falenas
Mas no fim da noite, aos pedaços
Quase sempre voltam pros braços
De suas pequenas
Helenas
Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Geram pros seus maridos os novos filhos de Atenas
Elas não têm gosto ou vontadeNem defeito nem qualidade
Têm medo apenas
Não têm sonhos, só têm presságios
O seu homem, mares, naufrágios
Lindas sirenas
Morenas
Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Temem pro seus maridos, heróis e amantes de Atenas
As jovens viúvas marcadas
E as gestantes abandonadas
Não fazem cenas
Vestem-se de negro se encolhem
Se confortam e se recolhem
Às suas novenas
Serenas
Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Secam por seus maridos, orgulho e raça de Atenas.
Também a nossa cultura cristã tem um ideal semelhante a estas mulheres de Atenas. Ensinam-se as meninas e raparigas de muitas das nossas igrejas a comportamentos estóicos e serenos.
Isto a propósito de que entrei como escrevinhadeira no Trento na Língua. Num blog onde a maioria dos escribas residentes pugnam pelo silenciamento das mulheres nas celebrações cultuais, ouve-se uma voz feminina: YO. Embora avessos a mediação feminina no culto, estes cavalheiros convidaram-me e acolheram-me simpáticos. Num mundo de homens, a Teologia; fala de Deus, uma filha de Agar. Numa cristandade portuguesa ateniense quero ser o menos possível mulher de Atenas.
* Agar foi a primeira personagem da Biblia a dar um nome a Deus: "O Deus que me vê".
3 Comments:
adoro essa música.
e por isso treme de gelatina :)
ai, não me digas que és padre!
não sou padre, pois sou protestante e para além disso, a igreja católica não permite clero feminino.
Sou protestante. Sou pastora-estagiária. Ou seja, depois de tirarmos o curso de teologia fazemos estágio durante um tempo para sermos avaliados por um pastor sénior e pelas comunidades em que somos colocados. Depois, somos ordenados e então aí sim somos Pastores.
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