Humildade

Senhor, em silêncio e em quietude
Sinto que o Teu amor me invade
E vai desalojando a impureza.
As Tuas mãos mansas e firmes,
Seguram a toalha.

Sinto-as em mim.
Tudo isto aceito.
Só não suporto,

ver-Te ajoelhado aos meus pés.

Compreendo Pedro,
O que ele sentiu
Ao ter de se inclinar para olhar para Ti.
A indignação sufoca-me
E, como ele.
Também eu me revolto.

Um Deus distante e poderoso.
Esse sim,

adapta-se ao modelo do mundo em que vivo;
Um mundo em que reina a subserviência e a lisonja.
Mas ver-Te aos meus pés, Senhor!
Não posso,

sinto-me ameaçado.
É uma dádiva grande demais.
Prefiro erguer-Te
E voltar a pôr-Te no pedestal.
É esse o lugar de Deus.

Contudo,
parece-me descobrir o que queres dizer:
Que num mundo onde tudo tem um preço
O Teu amor é de graça.
Que no Teu reino o privilégio não existe.
E que, a um toque da Tua mão,
Todos os valores do mundo se subvertem.
É a Tua dádiva, Senhor:
Imensa,
Diferença de tudo

o que os meus olhos viram.
Sem preço.
Sem dinheiro que a pague
Nem esforço que a alcance.
Basta aceitá-la.
Senhor, dá-me a humildade

De aceitar a Tua humildade.

Poema: Eddie Askew
Pintura: M. A. Kirk, Laura Fisher, Leszek Forczek.