terça-feira, maio 27, 2008

Grandes Esperanças


A Bianca fez 3 anos no mês pasado.

As notícias que tenho é que neste momento já foi adoptada. A alegria de saber que ela não vai crescer numa instituição mas sim com pais é um pouco toldada pelo amargo de uma história que não acabou bem. Penso na Lis. Penso na menina que ela foi e que se perdeu adolescência fora. A Lis neste momento tem 18 anos, a última notícia que tenho dela é que estava com problemas com a polícia, é provavel que esteja presa. Milhares de Lis e Biancas por estas terras fora. Mas não me consigo esquecer da Lis no primeiro acampamento onde a conheci: a carência, o abraço que sofocava de necessidade, o olhar de pedido e o sentido de humor.

Tenho tantas saudades desta Lis. No outro dia uma prima da Elsa perguntou-me promenores da história. Resumi tudo em 3 frases. Doi muito lembrar tudo. Sempre me lembro da Lis no primeiro acampamento onde a conheci: menina, inocente, criança sem ter culpa do seu passado.

Sabia desde o início que as probabilidades de a história acabar bem eram míninas. Anos de maus tratos não se saram na adolescência. Mas a esperança de que o empenho pudesse mudar o curso da história. O desejo de ver um final feliz. Tudo se resume a que: podemos ajudar, podemos facilitar, dar hipóteses, saídas, mas tem que ser a pessoa a querer mudar, a querer sair do ciclo onde a sua vida a meteu. Ninguém muda outra pessoa. Só nos podemos mudar a nós. E mudar quem somos é das coisas mais difíceis do mundo. Ninguém quer deixar de ser quem é, com o medo de deixar de saber o que é.

Orei tanto para que a Lis mudasse. Desejei tanto um final de história feliz. Chorei tanto porque antevi onde a levaria o caminho que seguia. Lutei tanto para que tudo fosse diferente. Tanta gente rezou, batalhou, deu de si. A história não acabou em tragédia. Salvou-se a Bianca. E a minha amiga Elsa, muito mais ligada à Bianca, respira de alívio. A vida daquela bébé estava ligada à sua. Deu-lhe o primeiro banho, lutou pelas vacinas, consultas, viu-a crescer e sorrir, ela enroscava-se no seu colo. Mas eu... lembro-me tanto da Lis no primeiro acampamento onde a conheci.